quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Mito Sexual- 17 de novembro de 2004


Lábios
O correspondente de IstoÉ em Nova York quase sucumbiu à sedutora boca da atriz deLara Croft e do aguardado Alexandre, enquantoa ouvia falar de cinema, política e amor livre com homens e mulheres

Ah!... A boca, claro. Em Angelina Jolie separa-se a parte do todo. O foco permanece sempre nos lábios – uma combinação indecente de fruta, mal usando as palavras da poeta Elizabeth Bishop. São ímãs que atraem mamíferos de grande porte, senhoras e senhoritas heterossexuais, e legiões sempre crescentes de adolescentes entre 11 e 19 anos. Há um desejo manifesto nesta multidão. Resolva-se o mistério destes contornos carnudos, observados desde a proximidade de três palmos de distância: são naturais. Em fotos antigas, é possível observar a promessa destas margens da boca famosa. Já eram proeminentes, enfeitando um rostinho redondo, e o conjunto herdando os mesmos contornos do pai, Jon Voight – ainda que a pele castanha seja da mãe, a atriz francesa Marcheline Bertrand.

Não é de estranhar que, com o passar dos anos, as dobras cutâneas daquele vestíbulo fantástico se transformassem em espécie de ser independente. Não há, acreditem, nenhuma ajuda adicional de colágeno na escultura daquela obra-prima. Tal boca pertence, claro, aos deuses. Já os seios, exemplares não menos desnorteantes, receberam há três anos os benefícios do silicone para o filme Lara Croft: tomb raider. Mas – infelizmente – foram logo retirados, garante a portadora. Somente um maluco como o diretor Oliver Stone poderia imaginá-la incorporando Olympias, a mãe de Alexandre, o Grande – o maior general de toda a história – em seu próximo filme Alexandre, que chega às telas americanas na quarta-feira 24 e nos cinemas brasileiros no dia 14 de janeiro. A única progenitora que poderia ser encarnada por Angelina Jolie seria outra grega famosa: Jocasta. “Quando ele me deu o roteiro, pensei: ‘Mãe? Ridículo’. Mas, depois de ler o texto, fiquei apaixonada pela personagem. Eu seria esta mulher se vivesse naqueles tempos”, disse a atriz de 29 anos, numa conversa acalentadora com ISTOÉ.

É fato notório que um mito, quando se materializa – tomando forma corpórea –, costuma decepcionar os fiéis adoradores. Há sempre um pequeno defeito, aparente ou inconspícuo, a demonstrar que a divindade, afinal, é imperfeita. Estando a três palmos do rosto de Angelina Jolie – do seu lado direito –, é possível flagrar o minúsculo detalhe que a separa do endeusamento. No centro da bochecha está cravada de modo indelével a circular cicatriz de uma pequena bolha de catapora. E mais: com certeza não nevava em meados de setembro, em Los Angeles, local da entrevista. Fazia calor ameno. Portanto, o minúsculo floco branco agarrado aos fios de cabelos acobreados – logo acima da orelhinha magnificamente torneada – não é um cristal de gelo. Talvez fosse um fragmento do linho da fronha que recentemente acomodou aquele perfil mundialmente venerado. Não, não... trata-se do impensado: é um fragmento da epiderme craniana, uma solitária unidade de caspa. Angelina Jolie, acreditem, é de carne e osso – com predominância do primeiro elemento. É humana, graças aos deuses, e, como tal, tem deficiências, pontos fracos e, principalmente, apetites intensos. “Sei dar prazer a uma mulher. Sei o que ela deseja. Fui para a cama com muitas mulheres. Adoro mulheres, assim como gosto de homens. Tenho certeza de que me deitarei com algumas delas no futuro”, disse com um sorriso provocante, que lhe separava os lábios famosos, a estrela de O colecionador de ossos (1999), Garota interrompida (1999) e Amor sem fronteiras (2003).

Os rótulos e preconceitos perseguem esta deidade pagã. Para ela, a veneração não garante impunidade. A mais injusta das opiniões a tem como um “bimbo” – adjetivo em inglês que qualifica a mulher linda e burra. Para quem não lê a imprensa séria, alerte-se: a atriz é campeã dos fracos e oprimidos na vida real. Embaixadora da Organização das Nações Unidas para Refugiados, Angelina tem peregrinado por zonas de combate, regiões de conflito e fome, confins do mundo onde o sofrimento humano salga a terra. Foi ao Sudão há um ano e meio – antes do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e do secretário de Estado americano, Colin Powell.

Thornton, sabe-se, é uma espécie de “redneck” – o caipira americano – e não concordava com a adoção de órfãos cambojanos ou cruzadas para salvar terceiro-mundistas refugiados. Angelina resolveu se dedicar aos pobres. Que, certamente, agradecem. “Existe no mundo o que é necessário fazer – como trabalhar pelos desvalidos. E há o que é necessário para a qualidade de vida do indivíduo. Para mim, é cuidar de meu filho, viajar muito e pilotar meu avião”, diz a atriz, que é piloto e tem um aparelho com pára-quedas acoplado na fuselagem. “Se for para cair morta, prefiro cair numa cama macia”, diz Angelina, com aquele sorriso do gato de Alice no País das Maravilhas.

ISTOÉ – Você agora é mãe de família. Como faz para cuidar do filho e ao mesmo tempo tratar de sua vida sexual? Dá tempo para transar?
Angelina – Claro que dá! Não tem problema algum. Tenho dois amantes – que são meus amigos há tempos. Não, não vou dizer os nomes. Eles são meus parceiros sexuais e a gente se dá muito bem. Nós vamos a um hotel e duas horas depois estou a caminho de casa. Não tem complicação alguma. Posso ficar duas horas longe das tarefas maternas.

ISTOÉ – Não existem envolvimentos emocionais mais complicados com estes dois amantes-amigos?
Angelina – Não tem nada de complicado. Nos conhecemos há tempos e nos entendemos muito bem. Não existe ciúmes ou qualquer intenção de um relacionamento mais complicado. Somos amigos e nos damos bem sexualmente também. E, se acontecer de me interessar por outros, vou fazer o mesmo. Em duas horas, num hotel, é possível dar conta dos desejos sexuais.

ISTOÉ – Com você? Duvido!
Angelina – Talvez você queira que euprove. Talvez um dia. Mas em duas horas dá tempo de sobra.

ISTOÉ – Cada amante sabe da existência do outro?
Angelina – Sim. Acho que sim. Não importa. Nós não ficamos falando de nossas vidas sexuais ou de outras pessoas. Duas horas só dão para o sexo e não para psicoterapia, o que ninguém quer. Preferimos viver a sexualidade, em vez de discuti-la. Não há interesse da parte deles em saber com quem eu me deito. Não há ciúmes, como eu disse.

ISTOÉ – São espertos estes seus amantes. Com você ao lado, quem se importa com tais nuances?
Angelina – Ei! Espero que alguém se importe. Um dia. Não agora. Mas espero que se importem...

ISTOÉ – O diário USA Today publicou uma frase sua – ou pelo menos estava entre aspas – em que você dizia que sabia dar prazer a uma mulher. Você transa com mulheres? Sabe dar prazer a elas?
Angelina – Eu adoro mulheres. Claro que sei como dar prazer a elas. Sei o que elas querem. Já transei com mulheres várias vezes. Se pintar a vontade, e as condições forem propícias, não tenho nenhum problema em transar com uma mulher. E acho que faço isso muito bem. Nenhuma reclamou.

ISTOÉ – Você já disse que não tem muita paciência com homens ocidentais. Por quê?
Angelina – Não, o que eu disse é que não tenho paciência com estes homens ocidentais que afirmam não ter paciência com suas próprias famílias. Que não têm condições psicológicas para segurar a barra da família. E se afastam da família, procurando algo egocêntrico. Como fez o meu pai, por exemplo. Nas minhas viagens à África, ao Afeganistão, ao Camboja e a outras partes do mundo, vi homens chorando porque não tinham como sustentar a família. Vi homens desesperados para arranjar comida para a família, que estava morrendo de fome. Vi homens entrarem em zonas de combate, zonas de guerra, para salvar suas famílias. Assim, não tenho mesmo paciência com os homens daqui, por exemplo, que dizem não aguentar as pressões psicológicas supostamente impostas por suas famílias. É o caso de meu pai.

ISTOÉ – Você não fala com seu pai?
Angelina – Não, não temos tido contato. Meu pai foi ausente de minha vida. E permanece assim. Faz muito tempo que não nos falamos. Meu pai adotivo é o Oliver Stone, que me ensinou a importância de ler jornais estrangeiros, olhar o mundo sob uma perspectiva diferente.

ISTOÉ – Você assistia aos filmes de seu pai?
Angelina – É engraçado. Eu fiz o filme Capitão Sky e o mundo de amanhã e levei meu filho Maddox. Ele ficou assustado em ver meu rosto tão grande na tela. O mesmo aconteceu comigo no primeiro filme que vi com meu pai, em 1979. O filme era o O campeão. O personagem dele morre no final. Fiquei supertraumatizada. E o pior é que ele apanhava muito no filme. Foi um horror. Mas, com meu filho, aconteceu que ele se assustou com o tamanho do meu rosto. Parece que eu tenho uma grande participação neste filme, mas na verdade trabalhei apenas 14 minutos. Em O espanta tubarão, meu trabalho foi ainda menor. Levei Maddox para ver e ele não acreditou que era eu. Eu dizia: “Olha, filhinho, é a mamãe lá.” Ele via o peixe e fazia não com a cabeça. E eu fiz o filme só por causa dele. Imagine!

ISTOÉ – Como foi o trabalho em Alexandre?
Angelina – É sempre maravilhoso trabalhar com o Oliver. Ele é meu diretor preferido. Em Alexandre, ele juntou as quatro pessoas mais loucas de Hollywood. Além dele, o Colin Farrell – se te interessa, eu não dormi com ele como dizem –, o Val Kilmer e o próprio Stone, além de mim. Foi uma loucura. Nos demos muito bem e o filme é uma obra-prima que merece o Oscar de melhor diretor.

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