domingo, 2 de março de 2008

Começando a ajudar o Iraque

Por Angelina Jolie
Quinta-feira, 28 de fevereiro, 2008, 1:15 PM

O pedido é familiar para os ouvidos americanos: "Traga-os de volta pra casa".
Mas no Iraque, onde eu acabei de me encontrar com líderes americanos e iraquianos, esta frase tem um significado diferente. Não se refere a partida das tropas americanas, mas ao retorno dos milhões de inocentes iraquianos que foram expulsos de seus lares, e em muitos casos, para fora do país.
Seis mêses depois desde que visitei o Iraque com o alto Comissário da ONU para os Refugiados, esta crise humanitária não melhorou. No entando, durante a semana passada, os Estados Unidos, a UNHCR e o governo iraquiano começaram a trabalhar juntos e de importantes modos.
Nós ainda não sabemos, exatamente, quantos iraquianos deixaram seus lares, aonde foram, nem o que fazem para conseguir sobreviver. Mas de uma coisa nós sabemos: mais de 2 milhões de pessoas estão refugiadas dentro do próprio país - sem moradia, trabalho e em péssimas condições, sem atendimento médico, alimento ou água potável. A limpeza étnica e outros atos de violência inexprimíveis os levaram à vastas e perigosas terras sem donos. Muito dos sobreviventes se alojam em mesquitas, em prédios abandonados sem eletrecidade, em tendas ou em barracas de apenas um cômodo feitas de barro e palha. Cinquenta e oito por cento destas pessoas internamente desabrigadas, tem menos de 12 anos de idade.
Mais de 2,5 milhões de Iraquianos procuraram refúgio fora do Iraque, principalmente na Síria e na Jordânia. Mas esses países já alcançaram seus limites. Oprimidos pelos refugiados, esses países resolveram fechar suas fronteiras até que a comunidade internacional forneça apoio.
Eu não sou especialista em segurança, mas não preciso ser uma para ver que a Síria e a Jordânia estão carregando um peso insustetável. Foram excelentes anfitriões, mas nós não podemos esperar que eles se preocupem com milhões de pobres refugiados iraquianos indefinívelmente e sem nenhuma assistência e auxilio dos Estados Unidos, e de nenhum outro país. Atualmente, um sexto da população da Jordânia são refugiados iraquianos. E o grande peso já está causando tensão internalmente.
As famílias iraquianas que eu conheci em minhas viagens feitas ao país, são orgulhosas e resistentes. Elas não querem mais nada do que a possibilidade de retornar aos seus lares - os que tiveram suas casas bombardeadas ou que podem estar ocupadas por outra pessoa, querem construir casas novas e retornar para suas vidas normais. Mais uma coisa é certa: isso irá ter que esperar um pouco até que o Iraque esteja pronto para receber os 4 milhões de refugiados, e de pessoas desabrigadas. Mas não é cedo demais para começar a trabalhar e a resolver os problemas. E na semana passada já havia sinais de progresso.
Em Bagdá, conversei com o General do Exército, David Petraeus, sobre o quanto a UNHCR precisa de informação, segurança e proteção para que o seu pessoal entre novamente no Iraque, e fiquei agredecida que ele tenha oferecido apoio. O General Petraeus também me disse que apoiaria os novos esforços para resolver a crise humanitária "até o máximo possível", o que me deixa esperançosa que mais progressos possam ser feitos.
A UNHCR certamente se empenha para isso. Na semana passada equanto estava no Iraque, o Alto Comissário, Antônio Guterres prometeu aumentar a presença da UNHCR e trabalhar próxima ao governo iraquiano, ambos avaliando as condições necessárias para o retorno dos refugiados, providênciando um alívio humanitário.
Durante minha viagem, eu também me encontrei com o Primeiro Ministro Nouri al-Maliki, quem anunciou a criação de um novo comitê para supervisionar os assuntos relacionados com as pessoas internamente desabrigadas, com uma promessa de 40 milhões de dólares para apoiar o esforço.
Minha visita me deixou ainda mais convencida que nós não só temos uma obrigação moral em ajudar as famílias desabrigadas, mas também um sério, e a longo prazo, interesse nacional em acabar com essa crise.
Hoje a crise humanitária no Iraque - e as potênciais consequências para nossa segurança nacional - são enormes. Será que os Estados Unidos têm recursos para arriscar que 4 milhões ou mais de pessoas pobres e desabrigadas, no coração do Oriente Médio, não explodam em violência e desespero deixando a região inteira em uma profunda desordem?
O que nós não temos suporte, na minha visão, é desperdiçar o progresso que tem sido feito. Aliás, devemos progredir nossos auxílios financeiros e materiais. A UNHCR apelou por 261 milhões de dólares este ano para fornecer aos refugiados e aos internamente desabrigados. E isso não é uma pequena quantia de dinheiro - mas é menos do que os EUA gastam todos os dias para combater a guerra no Iraque. Eu gostaria de pedir a cada um dos candidatos presidênciais e líderes congressionais para anunciar um compreensivo plano para o Refugiado, com prazo e orçamento específicos como parte de suas estratégias ao Iraque.
Já em relação à pergunta sobre o trabalho feito, eu apenas posso declarar o que testemunhei: o pessoal dos Estados Unidos e o pessoal das organizações não-governamentais parecem sentir que eles têm o direito conjunto das circunstâncias, na tentativa de escalar seus programas. E quando eu perguntei às tropas se eles gostariam de voltar para casa o quanto antes, eles disseram que perderiam a oportunidade de voltar para casa, já que se sentem investidos no Iraque. Eles perderam e têm perdido muitos amigos e querem fazer parte deste progresso humanitário, no qual agora sentem que é possível.
Parece para mim, que agora é o momento para resolver o lado humanitário desta situação. Sem o apoio correto, nós podemos perder a oportunidade de fazer alguma coisa boa, da qual nós sempre declaramos que pretendemos fazer.
Angelina Jolie, atriz, e Embaixadora da Boa Vontade da UNHCR.

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